Ler e Escrever em Situações Funcionais





Depois desta breve introdução para ajudar a enquadrar melhor o contexto social e familiar de uma criança nascida nos anos cinquenta, vamos parar um bocadinho, e fazer a ligação para o que hoje se sabe sobre a problemática da aprendizagem da Linguagem Escrita. Convido-os a dar uma vista de olhos no seguinte texto:



LER E ESCREVER EM SITUAÇÕES FUNCIONAIS


“A história da aprendizagem da leitura e da escrita começa muito antes da entrada para a escola primária.
Com efeito, desde muito cedo que as crianças se interrogam e põem hipóteses sobre a escrita que as rodeia. Interrogam-se sobre os objectivos da linguagem escrita e sobre a natureza dessa mesma linguagem.

A estas hipóteses, a estas representações sobre a linguagem escrita, chamam-se concepções precoces sobre a linguagem escrita.
Estas concepções precoces sobre a linguagem escrita têm grande importância na aprendizagem da escrita e da leitura.

Se a distância entre a forma como as crianças pensam e aquilo que lhes é ensinado for demasiado grande, é natural que elas não sejam capazes de integrar nos seus esquemas de pensamento os conhecimentos que lhe são transmitidos e, por consequência, manifestem dificuldades na aprendizagem.

Se pelo contrário, esta distância for pequena, ser-lhes-á mais fácil apropriarem-se, de uma forma construtiva, dos novos saberes que lhe são transmitidos.

Algumas crianças chegam à escola depois de um conjunto de vivências que lhes permitiram interiorizar o sentido da linguagem escrita: os pais e /ou os educadores costumam ler-lhes histórias, costumam consultar livros e outros materiais escritos em diversas situações funcionais. Em casa e /ou no jardim de infância existem suportes variados contendo escrita, os pais e /ou os educadores utilizam a escrita com diversas finalidades: para comunicar, para registar acontecimentos relevantes, para se recrear.

Essas práticas levam as crianças a desejarem aprender a ler e a escrever, a construírem o seu projecto de leitor/ escritor: “ Eu quero aprender a ler e a escrever para ler livros de histórias, para saber mais coisas sobre os animais, para ler os livros dos grandes, para poder escrever cartas, noticias, histórias”

Na perspectiva destas crianças, a aprendizagem da linguagem escrita surge como uma necessidade interna, como actividade significativa associada à comunicação.

Outras crianças chegam à escola sem terem tido ocasião de participar em situações em que a linguagem escrita tem um papel de relevo: os pais e /ou os educadores não costumam ler-lhes histórias, não costumam consultar livros e outros materiais escritos em diversas situações funcionais, em casa e/ ou no jardim de infância não existem suportes variados contendo escrita, os pais e /ou os educadores não utilizam a escrita com diversas finalidades.

Estas crianças, ao contrário das primeiras, não tiveram ocasião de interiorizar saberes e vivências relacionados com a linguagem escrita; a linguagem escrita não faz parte do seu universo afectivo e cognitivo.

Para elas, aprender a ler e a escrever serve unicamente para “ Passar de classe, fazer os trabalhos da escola”. Na perspectiva destas crianças, a aprendizagem da linguagem escrita surge como uma imposição externa, como actividade sem sentido dissociada da comunicação.

 A construção de um projecto pessoal de leitor / escritor tem uma grande importância no processo de alfabetização na medida em que confere sentido à aprendizagem da escrita e da leitura”



* In Criar o Gosto pela Escrita – págs. 32 e 33
Alves Martins, Margarida; Niza, Ivone










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