Biografias Sentimentais


BIOGRAFIAS SENTIMENTAIS

A introdução (PARA COMEÇAR) deveria ter sido antecedida pela frase, que retirei já não sei quando, de uma revista do Expresso:


   BIOGRAFIAS SENTIMENTAIS

“ Um poeta põe-se a escutar o passado e este muda-se em presente, pois o que o poeta ouve é menos o que foi e mais as palavras e o entendimento das coisas e do mundo que possui. Recordar torna-se então, para alguns, no sincopado desfile onde a vida e ficção se misturam. Fruto do que despoletou a evocação, mas também dos acasos e do treino da escrita ou do gosto particular do autor.”
           
   Carlos Bessa (a propósito dos Livros de Al Berto)


Embora não sendo poeta, o que aqui se apresenta é uma "Biografia Sentimental" (gosto deste nome...), ilustrada com documentos antigos, e apesar do que referi sobre a tal justificação esfarrapada, gostaria que servisse para professores e não professores falarem da escola, e das questões da aprendizagem da linguagem escrita.

Não é um diário, nem um romance. Quem quiser, se tiver necessidade de dar nome às coisas, poderá inserir este trabalho nas chamadas “histórias de vida”.
É uma investigação caseira, despretensiosa, que se outro mérito não tiver, serviu para arrumar algum material antigo.

Com a convicção de não ter sido o melhor exemplo como aluna, o que aqui fica descrito, são as minhas memórias, encaradas com a consciência presente do passado.

Sentindo necessidade de não ficar só pelo passado, e não querendo fazer um trabalho académico, acrescentei como separadores dos capítulos alguns textos, que podem ajudar a compreender algumas das concepções actuais da aprendizagem da Linguagem Escrita.

Não procuro demonstrar que a escola de antigamente era melhor do que a de hoje.
Não procuro demonstrar o que não se pode demonstrar.
Para saber se era melhor ou pior, era preciso comparar, e não tenho dados para o fazer (nem eu nem ninguém).

Dizer que na escola de antigamente se aprendia melhor é um mito. Aprendia-se como se aprende hoje, umas crianças aprendiam mais do que outras (o meu irmão sempre foi muito bom aluno, enquanto eu fui sempre mediana, no entanto tivemos as mesmas oportunidades).

Assim, este blogue a que chamei “A Escrita na Vida de uma Educadora de Infância”, começa com a descrição de uma época há muito desaparecida, em que uma menina, nascida numa família de classe média, teve oportunidade de conviver com a escrita e a leitura, muito antes de ir para a escola.

Sabendo ler e escrever, isso não foi valorizado na escola. A aprendizagem escolar foi feita pelos livros únicos do Estado Novo, numa sucessão desinteressante de cópias, ditados e treinos de redacções.

Os documentos com escrita, referentes ao liceu começaram a escassear, o que não permite uma grande análise dos conteúdos escolares, no entanto podemos verificar que as notas não eram brilhantes, e a motivação para a aprendizagem formal pouca.

Essa pouca motivação pelo estudo, aliada ao gosto pelas crianças, levou-me a fazer a opção de frequentar um curso médio, escolhendo tirar o curso de Educadora de Infância.

No estágio final, depois da aplicação de um desastroso Centro de Interesse sobre "Os transportes", entrei em conflito com as directrizes da escola, porque considerava que aquilo que era suposto ensinar, não interessava às crianças.

Decidi que o importante era sair com as crianças, e depois conversar com elas. Acho que intuitivamente tinha descoberto como a linguagem ajuda a estruturar o pensamento!

Faltava-me no entanto descobrir tantas coisas:
  • Que a escrita podia fazer permanecer o dito e o vivido;
  • Que os meninos das classes desfavorecidas também tinham conhecimentos;
  • Que o bairro e as pessoas do bairro eram importantes…                              
E alguns anos se passaram sem que eu fosse descobrindo isso!

Um dia, numa livraria onde se encontravam alguns livros que estavam fora dos circuitos comerciais, fizeram-me chegar às mãos um livro que adorei.Era de um tal Célestin Freinet, chamava-se “Les tecniques Freinet de l’école moderne”, e falava do usar na escola as técnicas e os instrumentos utilizados na vida real.

Tudo em teoria fazia sentido, mas na prática aquilo não se encaixava nos meus conhecimentos. E entre o querer mudar, e o saber como se fazia essa mudança, algum tempo foi passando.
Deu-se o 25 de Abril, e embora não tenha presente a data, um dia, fui à Escola do Magistério Primário de Lisboa ver uma Exposição. Numa sala, estavam trabalhos de alunos. Eram completamente diferentes do que era habitual. Tudo o que ali estava tinha vida!
Na minha cabeça fez-se luz. Aquilo tinha qualquer coisa a ver com o que estava descrito no tal livro.
Um cartaz indicava que se iria realizar em Oeiras um “Curso de iniciação às técnicas Freinet”. Telefonei para o número indicado, mas comunicaram que já não havia vagas.

Mais uma vez, a mudança pedagógica ficou adiada!

Por intermédio de uma amiga, que estava a trabalhar no Jardim de Infância da Estação Agronómica de Oeiras, entrei finalmente em contacto com o Movimento da Escola Moderna. Comecei a ir a umas reuniões, e a tentar introduzir pequenas alterações nas minhas práticas…

Como a alteração das práticas demora mais tempo do que aquilo que se quer, ou se consegue, irei introduzindo aqui, por ordem cronológica, alguns documentos mostrando como ao longo do tempo, fui evoluindo na forma de trabalhar os aspectos relacionados com a escrita e a leitura no Jardim de Infância.









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