sábado, 19 de dezembro de 2015

O Movimento da Escola Moderna para Iniciados

Já tinha dito que um dia iria aqui escrever sobre o Movimento da Escola Moderna, ou MEM como é mais conhecido. Como o blogue se intitula “A Escrita na Vida de Uma Educadora”, nada melhor do que socorrer-me de um trabalho de grupo, feito no âmbito do Mestrado em Administração e Gestão Educacional da Universidade Aberta. O grupo era constituído por mim, e pelos colegas Carla Mendes e Vítor Augusto. Como não queria um texto académico, tentei depurá-lo o mais possível. Uma pequena bibliografia virá no final.
Mas não pensem que é fácil fazer um texto simples, autêntico, dada a complexidade que a estrutura do MEM apresenta.
Essa complexidade deriva de vários factores:
MEM assume-se como uma Associação de Profissionais de Educação de todos os graus de ensino, (da educação Pré-Escolar ao ensino Universitário), que tem como principais finalidades, a auto formação cooperada dos seus associados, através da constante partilha e reflexão sobre as práticas pedagógicas e os materiais que vão elaborando, bem como a construção de propostas de educação e de formação democráticas, ensaiadas no quotidiano escolar com os alunos.
Os sócios, por sua vez, propõem-se desenvolver práticas educativas homólogas das que vão vivenciando na formação cooperada. Esse modelo de práticas educativas vai sendo ensaiado e aferido nas trocas sistemáticas de experiências e saberes entre os associados.

Para tornar ainda mais complicada a nossa explicitação, o MEM tem: - Um Passado; Uma História; Uma Cultura; que intimamente interligados, contribuem para se perceber o que é hoje o Movimento da Escola Moderna.

É um texto um pouco longo, no entanto espero que possa ajudar.


Na Calçada da Tapada

Como já referi, em relação à minha ida para a escola da Calçada da Tapada, as expectativas de alguns elementos do corpo docente eram muito grandes, influenciados pelo que a Rosinda lhes tinha dito, esperavam que fosse feito um trabalho de articulação entre os dois níveis de ensino, o que não se tinha verificado nos anos anteriores.

Mas uma coisa tinha sido o trabalho na Voz do Operário da Ajuda, uma escola muito pequena, e outra coisa era o trabalho que me esperava, numa escola pública de grande dimensão...

Em Setembro de 1989 lá me apresentei ao serviço. Eu e a colega Custódia Guerreiro.

Muito bem recebidas, gostámos do ambiente daqueles primeiros dias, ainda sem crianças, íamos tentando perceber como as coisas iriam funcionar, organizar as salas, ver as crianças inscritas e a sua divisão pelos grupos, enfim os aspectos normais de um início de ano.

Mas quando as crianças entraram, confesso que tivemos um grande choque. Nenhuma de nós tinha trabalhado num sítio com tantas crianças. Nesse ano funcionavam 18 salas do 1º ciclo.

Também nos parecia que havia crianças muito crescidas, o que se verificava, pois nesse ano ainda funcionavam mais quatro classes de ensino especial, com alunos com graves problemas de aprendizagem.

A população escolar era muito homogénea, as crianças na sua maioria residiam nas zonas mais desfavorecidas da freguesia: o Pátio do Cabrinha, a Vila Teixeira, a rua da Cruz...

Era na altura um quadro de miséria extrema.

Tudo isto aliado ao dinamismo de uma parte do corpo docente, que ultrapassando barreiras legais, tinha implementado um esboço de "Tempos Livres" e um incipiente serviço de refeições.

Para quem como nós, não estava habituada aquele desassossego, foi duro!

Lembro-me até de um dia termos chorado as duas, pensando que não íamos dar conta do recado.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

No Jardim de Infância da Ameixoeira

Estávamos em 1987.

Por essa altura, começava a falar-se, embora de maneira ainda incipiente, em Modelos Pedagógicos.

O "D.E.P.E." na altura o  Departamento da Direcção Geral do Ensino Básico do Ministério da Educação que coordenava os Jardins de Infância oficiais, atento ao facto, resolveu escolher quatro Modelos Pedagógicos: - o Modelo High-Scope, a Pedagogia de Projecto, a Pedagogia de Situação, e o Modelo do Movimento da Escola Moderna, para serem trabalhados experimentalmente em Jardins de Infância da rede pública.

Com o conhecimento de que eu ia regressar ao trabalho directo, o Jardim de Infância da Ameixoeira, foi um dos escolhidos para participar nessa experiência pedagógica. Era lá que iria ser implementado o Modelo do Movimento da Escola Moderna. Eu estava ao corrente do que iria ser proposto, e não nego que estava entusiasmada. Mas as outras colegas não sabiam nada do que as esperava.

Tinham-me pedido segredo absoluto, pois o projecto podia não se realizar. 

Hoje acho que foi uma perfeita loucura … um grupo de educadoras que não se conheciam de lado nenhum, juntas pela primeira vez, num local completamente desconhecido, aceitaram participar no projecto.

Por sorte (e muito trabalho), acho que a coisa correu bem!

Antes das férias do Natal, uma grande comitiva vinda da "24 de Julho", deslocou-se à Ameixoeira, para nos desafiar.

As colegas, quando lhes fizeram a proposta, aderiram de imediato, embora com algum receio. O projecto englobava também outras duas colegas, colocadas em Jardins de Infância do Alentejo. Teve a duração de dois anos lectivos, em que fomos acompanhadas teoricamente pelo Sérgio Niza.

Em Janeiro, lá começamos a trabalhar no projecto de implementar o Modelo do Movimento da Escola Moderna.

A balançar entre a teoria e a prática.

Começámos com a teoria, um monte de fotocópias de textos, para em equipa irmos lendo e discutindo.

Pude verificar, que tal como me tinha acontecido a mim, muitas vezes as colegas tinham dificuldade em enquadrar a teoria na prática. Apesar de tudo, acho que a minha presença ajudou nessa tarefa.

Uma vez por mês, lá ia o Sérgio Niza fazer o ponto de situação. A Céu André e a Francisca,educadoras a trabalhar em Jardins de Infância do Alentejo, vinham na camioneta, apanhada em Serpa, de madrugada.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Na Escola de Magistério Primário de Lisboa

E lá fui eu para a Escola de Magistério Primário de Lisboa, ser professora de “Técnicas Pedagógicas”, no Curso de Educadores de Infância. Foram três anos em que acompanhei um grupo de alunos, do primeiro ao terceiro Ano.


Essa passagem pela Formação Inicial, foi também uma grande aprendizagem. 

Aprendizagem feita com algum sofrimento, não nego, principalmente porque estava a mexer com conceitos que não dominava. Todas as questões da Avaliação me inquietavam muito. De qualquer maneira tive de me adaptar. Adaptação também  a outro espaço, a outra equipa, a outros conteúdos e a alunos de uma outra faixa etária.

O terceiro Ano do Curso, era passado em estágio, em Jardins de Infância.

Como semanalmente tínhamos um tempo para reflexão, resolvi criar uma certa distância, e em conjunto ler e analisar alguns textos teóricos. Como por vezes tinha alguma dificuldade na selecção, abalancei-me nas coisas da escrita.

Apesar da auto-censura que hoje, a minha idade e percurso profissional me deviam impor, aqui vão alguns desses textos, tal e qual foram escritos, na "frescura" dos meus 30 anos. 

Penso que na sua ingenuidade reflectiam algumas das minhas preocupações pedagógicas, muitas das quais infelizmente, ainda hoje  se continuam a verificar.

Essas preocupações giram em torno das coisas simples da vida do Jardim de Infância, tais como a expressão e a comunicação, a conversa com as crianças, a utilização de instrumentos de planificação e avaliação, A organização do tempo, dos espaços e dos materiais,  a relação com o meio, a celebração de dias festivos...

Aqui vão alguns, sem emendas, tal como foram escritos na época.



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Na Voz do Operário

Se há locais de trabalho que ficam no nosso coração, a escola “Voz do Operário” da Ajuda foi um deles.

As Escolas “Voz do Operário” eram um pouco aquilo que hoje se considera como um Agrupamento de Escolas. Havia a Escola Sede, situada na Graça, e depois havia mais seis escolas.

A nossa, a nº 6 da Ajuda, era uma escola pequena, quatro professoras do 1º ciclo, e eu no Jardim de Infância. Todas tão diferentes, mas sabendo aproveitar e pôr em comum o que cada uma tinha de melhor.

Estive lá cinco anos, e foi de facto o meu grande local de aprendizagem, em termos profissionais e do Movimento da Escola Moderna.

Toda a equipa trabalhava segundo os mesmos princípios, havia inter-ajuda, discutíamos o trabalho realizado, e procurávamos fundamentar teoricamente as nossas opções. Trabalhar ali era um desafio constante!

Considero que tive a sorte de ver na prática, como se desenrolava a aprendizagem da escrita e da leitura, desde a 1ª à 4ª classe e entender todo um processo.


E gradualmente, no confronto diário com as colegas, embora de outro nível de ensino, no trabalho constante de aferir práticas, com os colegas da APIA (Associação de Protecção da Infância da Ajuda), que também pertenciam ao MEM, nas reuniões do Movimento, fui interiorizando e percebendo o que tinha lido teoricamente, e não tinha conseguido integrar.
  • Acolhia as falas das crianças, e registava-as sistematicamente (o que não costumava fazer até aí).
  • A escrita das falas, das histórias inventadas ou recontadas, dos projectos, das saídas, estava por todo o lado, transcrita por mim e ilustrada pelas crianças…
E aquilo que eu nunca tinha verificado aconteceu.

Aquelas crianças gostavam e queriam escrever.

E eu encantava-me com a escrita delas!


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Saudades ou o Que é Isto da Relação Com o Meio

Vocês não conhecem a Irmã Piedade, nem com certeza a irão conhecer, mas hoje deu-me para pensar nela, e no seu contributo para a minha formação.
Quando fui trabalhar para a Outurela, o 25 de Abril ainda estava fresco, correspondendo a uma certa euforia geral, e ao despertar em mim de uma consciência politica, aliada a algum populismo.

Estando a trabalhar num Colégio Particular, fui desafiada para ir trabalhar no Centro Social e Paroquial Nossa Senhora da Conceição. Centro esse que servia a população de três bairros degradados: Outurela, Barronhos e Salregos.

Trabalhar com as crianças deste “Meio” aliciou-me. Nem medi os prós e os contras. E lá fui! De vinte e cinco horas semanais passei a trabalhar trinta e seis, a ganhar o mesmo, a pagar transportes, a ter menos férias… Mas ia contente! Aquilo correspondia a uma certa “missão” que eu na altura achava que tinha que cumprir.

Que desilusão! Não queriam mais uma educadora para melhorar o trabalho pedagógico, mas unicamente para corresponder a uma exigência da Segurança Social de ter sempre pessoal técnico a cobrir uma exorbitância de horário.

A São e a Angelita, Auxiliares de Educação, acolheram-me de braços abertos, apesar de o meu cargo ter o nome pomposo de “Educadora Coordenadora”, o que na prática se traduzia a dividirmos entre nós três, e por duas salas, sessenta crianças em pé de igualdade...


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Educadora Sou

No dia 6 de Outubro de 1970, comecei com a minha amiga Margarida Maldonado, uma das educadoras que me tinha aconselhado a ir tirar o curso da Maria Ulrich, a trabalhar num colégio na Parede. Era essencialmente frequentado por crianças provenientes (como hoje se diz) de um meio sócio cultural médio alto. Situado num palacete perto da praia, era muito organizado. Quatro salas da Instrução Primária e, quatro salas da Infantil. 

Os Centros de Interesse, passaram a chamar-se Temas, trabalhados obrigatoriamente em todas as salas: O Outono, o vestuário, o Inverno, o Natal… provavelmente a alimentação, os transportes, os animais domésticos e selvagens, a Primavera. Não havia tempo para se chegar ao Verão, porque o calendário escolar terminava antes disso, e logo no principio de Junho, era preciso começar a trabalhar para a festa de fim do ano.

Podemos Ensinar a Escrever..

Podemos ensinar a escrever, ensinando as crianças a guardar coisas que trazem na cabeça.